terça-feira, 8 de setembro de 2009

Voltando

Quase desisti do blog, fiquei muito tempo sem postar. Aos poucos vou voltando, sempre quando o tempo for deixando. Mas o tempo tem sido um déspota inflexível. Ai se fosse possível viver apenas de nossos devaneios...Mas não é possível, e, na verdade, apesar de mais difícil, é melhor mesmo que não seja possível porque a vida só tem graça quando lutamos em terra firme, se apenas voassemos e tudo tívessemos seriamos muito desumanos e egoístas: não fomos feitos para sermos deuses.

domingo, 12 de outubro de 2008

?

Agora já pleno de...agora já pleno, não sabia o que fazer da imensidão que já não lhe cabia no corpo, tamanha era a infinidade de sua alma. Colossalmente eterna, parecia lhe romper a matéria em busca do ilimite - sua alma se tornara ilimitada. Não cabia em si. Não cabia no mundo. E isso lhe causava angústia porque não sabia o que fazer do que agora era - O que faria de sua imensidão?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Just.

Ainda está para nascer criatura mais contemplativa.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Mensagem do vento

Do escritório ele podia ver pela janela o movimento dos carros e pedestres na avenida marginal ao rio. Olhou no relógio: três horas e trinta e cinco minutos da tarde. O sol iluminava impiedosamente a paisagem. O ventilador estava ligado, soprava um ar fraco e quente que apenas fazia o mormaço circular pelo cômodo. Deitou a cabeça sobre a mesa, ainda olhava pela janela. Havia uma praça e um monumento à sua frente, na verdade um monólito, erguido pela maçonaria da cidade. Uma menininha passou pela janela e lhe disse oi, ele respondeu monótono, e ela se foi. Suspirou profundamente – Eita terça-feira que não acaba!
De repente o vento começou a mudar, soprava gradativamente mais forte, balançava as copas das árvores na praça, e as folhas secas, já por meados do outono, arrancadas dos galhos e levadas pela ventania; nenhuma nuvem no céu. Saiu do escritório e foi para a rua, como gosta de vento não podia deixar de se expor àquele sopro repentino. É como se dele viesse uma força que revigora e impulsiona, mas também é como se o rompante que ele causa na inércia da paisagem o acalmasse. Pois o que pode se dizer do vento se não que ele é o espírito da Terra. E quando falo em espírito não digo alma, e sim falo em vida. A vida em essência é um movimento que não se vê, mas que se sente; no ambiente físico, estático, é o vento que se move. E a percepção de seu movimento pelo corpo é a confirmação de que se está vivo.
E sentir a vida confirmada por um agente da natureza, traz a tranqüilidade que muitos buscam. Em meio às tribulações cotidianas, nos esquecemos de sentir a vida e apenas a vivemos em negro, desprezando nossos atos natos. Substituímos nossas vontades e atitudes naturais por gestos impróprios ao que somos. O que ocorre é que nos deixamos conduzir pelas circunstâncias que a sociedade cria. E diante das circunstâncias agimos como esperam que ajamos; nem sempre fazemos o que queremos. E na tentativa de justificar a sublimação do que somos, dizemos a nós que estamos sendo racionais. Não há que se confundir racionalidade com negação ao eu, não há que se justificar essa agressão à essência, e sim há que se ter coragem de assumir o crime: eu mato o meu eu.
E ali parado diante do monólito e da praça, ele pode ouvir as portas das casas batendo: era o vento entrando sem cerimônia e movendo a matéria imóvel. Fechou os olhos e abriu os braços, como o gesto de quem se prepara para um abraço ou de quem se entrega. Ele se entregava para o vento, e queria que ele o agarrasse e o levasse não sei para onde, ele queria apenas ir. E o vento o faria voar. Se eu pudesse voar... se eu pudesse voar eu voaria para qualquer lugar, o vento seria meu guia, assim eu estaria me permitindo ser imprevisível; e viveria de acasos, sem fronteiras: seria livre. Iria para a cidade vizinha, para outros países, atravessaria os oceanos, sobrevoaria os desertos...
Abriu os olhos. E como um flash, passou diante de seus olhos um pedaço rasgado de papel soprado pelo vento. Correu para alcançá-lo, pegou. Analisou: estava um pouco sujo e trazia consigo uma carga de tristeza evidente pelos sinais das rasgaduras, profundas como um corte de uma adaga. Havia algo escrito: “E talvez o que me impossibilitava de ver as coisas como realmente eram fosse a ausência de uma perspectiva lógica. Os sentimentos e as vontades não são racionais , e em mim eles falam mais alto do que minha voz, e eles eram o referencial de minha perspectiva. Eu não agia pela lógica, eu agia por instinto.” Essas palavras, tão profundas e reflexivas só podem ter sido escritas por alguém se questionou sem medo da resposta que viria de seu próprio interior. Não creio que eu teria coragem de me questionar tão intimamente.
“Não poderia dizer que eu assumia uma posição errônea ao me deixar guiar pelos meus desejos. Nem tão pouco posso me permitir dizer que estava vivendo uma alucinação ou uma mentira. O que é verdade é aquilo no que acreditamos, e eu acreditava no que sentia. Pois só sentindo é que podemos perceber o que nos ocorre. Sentir é a única maneira de ter a prova de que algo é real, e eu sentia. E o que eu sentia era o que eu queria; então para mim era real. E era também correto, pois eu sei que me traria satisfação e alegria. E a vida existe para ser preenchida de realização de desejos, desde que estes não violem a própria existência...” Entendeu essas palavras como uma súplica por liberdade - Provavelmente é uma carta de um suicida. Uma mensagem jogada ao vento.
“E se quiserem me privar de ter o que quero ou ser o que sou, não me resta alternativa se não...” E a carta termina ai. Não sei qual era a alternativa: talvez fosse mesmo um suicídio ou quem sabe um assassinato. Mas pode ser que seja algo que não envolva um fim e sim um recomeço: talvez seja a decisão por uma nova vida. – Em todo caso espero que o emitente da carta tenha optado por sua liberdade. E que ele tenha tomado a decisão que lhe permita viver e não apenas existir. E se o que ele decidiu foi a morte não o recrimino. Morrer por vontade própria é se jogar em um abismo desconhecido, pois quais certezas temos sobre a morte? A única que é evidente é que a vida, como a conhecemos e sentimos, para; o resto é mistério. E julgar um suicida como fraco ou criminoso é uma violação à sua individualidade.
Então ele notou que o vento tinha parado e agora voltava a soprar. E quando ele atingiu a velocidade da ventania anterior abandonou o papel no ar. E como uma folha seca arrancada de um galho ele voou para longe de sua mão, e foi levado não sei para onde, não sei para quem. Ele permitiu que a mensagem seguisse seu destino. Uma mensagem do vento. Sentou-se na calçada e se perguntou: o que eu faria para ter a liberdade que tanto quero? Acho que sei a resposta, a minha resposta – concluiu- Cada um tem a sua resposta, pois as liberdades e suas questões são diferentes: elas variam assim como as personalidades, as perspectivas, as verdades. E não há como definir uma resolução geral.
- Como fazer para ser livre? Perguntou-lhe a menininha que lhe cumprimentara mais cedo, sentando-se ao seu lado.
-Depende do que lhe priva de ser livre. Respondeu surpreso, se perguntando de onde ela viera.
-Hum... acho que entendi-disse conclusiva- As vezes as pessoas criam suas próprias correntes que lhe impedem de andar.Ou ao invés de criá-las, elas lhes são oferecidas e as pessoas aceitam. E aceitar a privação que lhe é imposta é furtar de si a própria humanidade. E impor alguém que use correntes é violar a lei divina do livre arbítrio, da liberdade. Estou certa?
- Sim - respondeu solene – Sabe menininha, a liberdade é algo perigoso. É necessário que se tenha bastante controle de sua natureza para que se possa desfrutá-la. Enfim, acabei de dizer que ela não existe de fato... contraditório.
-Olha, rapaz- falou sem olhar para ele- Você pode ser livre sim, assim como eu e todos os outros... não sei como não vi isso antes ... mas nenhuma liberdade será infinita, pois no pouco espaço que dividimos não caberiam tantas asas ruflando ao vento. Podemos voar, mas sempre respeitando o espaço alheio.
-Entendo...
Olhou para o lado, a meninha já ia embora, estava longe, e ficava cada vez mais longe. Assim como o papel que lançara ao vento com a mensagem de alguém que quis ser infinitamente livre.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

...

... e até os óculos pesavam, o ar também pesava. A voz da professora pesada ecoava pesada pela sala. Estava cansado, e era um cansaço de descanso difícil -fatigado!- Era uma fadiga na alma.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Insight.

,mais uma vez me deparo comigo e estou refletindo. E é uma reflexão que não me dará resposta, pois a resposta não depende de mim. E tenho medo de refletir errado, perder o meu tempo com pensamentos sem sentido; flashes de consciência irracional e emotiva que me forçam a querer tomar uma decisão baseada na não resposta.
Talvez a questão não resolvida seja a resposta; o silêncio talvez já queira dizer não, e eu tenho que aceitá-lo assim, subentendido. A abstração do não ausente é a resposta que procuro? Creio que seja.
Na verdade eu deveria ter deixado para lá logo no início, acho que não deveria ter insistido, deveria ter deixado ir sem forçar a olhar para trás; eu não deveria ter chamado. Mas a vontade de ter a presença foi mais forte do que eu.
E eu estava disposto a me contentar com uma pequena fração. Sim, eu abriria mão do que eu quero se fosse necessário para que eu tivesse o básico. Então refleti sobre isso, e vi que agindo assim eu estaria violentando a mim mesmo; foi aí que senti meu orgulho ferido. E o sangue da ferida inundou todo o resto e me afoguei em mágoa.
Mas o tempo passou e a mágoa foi drenada e eu voltei a respirar. Porém, a umidade do sangue persiste. Só que nada disso importa, é passado, e falo do presente. Mas é difícil não importar, porque eu preciso de uma resposta, e como ela não virá até mim, para encontrá-la só me restam as evidências do passado. E baseado no que já se foi tentarei obter uma resposta que justifique minha decisão, cuja qual tenho medo de tomar por ser algo que não quero: esquecer.
Acho que cheguei ao inicio de uma conclusão, não vou esquecer; até porque esquecer não depende da minha vontade.
O que farei é aguardar o tempo passar e ficarei esperando a resposta. Não a buscarei, não perguntarei, não exigirei. Coisas como essas não devem ser exigidas, devem vir espontaneamente. Mas mesmo que a resposta seja ruim eu quero ouvi-la, acho que tenho esse direito.
Nunca prive alguém que se importa com você de uma justificativa.

domingo, 11 de maio de 2008

Ao som da música.

Não há modo de descrever o efeito que aquela música causava em seu corpo todo. A vibração lhe dava um batimento acelerado do seu coração. A letra narrava a sua versão da história. Era uma história de dois, e nesse caso não há uma versão oficial e correta dos fatos, o que há são duas perspectivas diferentes, e cada uma correta - do seu ponto de vista. Não havia discussão, não mais.
A música continuava tocando e ele agora dançava. O ritmo ele não percebia, ele não via se dançava conforme a música, ele vibrava em ressonância com o som da música, com o som do sentimento da música, com o som do seu sentimento.
De olhos fechados só podia perceber os flashes de luzes coloridas. O salão estava cheio, muita gente dançava perto dele. Mas naquela multidão ele estava sozinho, ele se isolava.
(.....)
E a canção agora era seu sustentáculo, ela que o mantinha de pé, uma força invisível que o cercava. Ele se sentia livre, porém firme no meio do nada. Ele se sentia como se estivesse dentro de um recipiente gigante, cheio de um liquido viscoso no qual estava submerso, porém suspenso, na música. Ela invadia seus ouvidos, penetrava e saia de sua boca. A música se tornara nele simultaneamente interna e externa. Ela mantinha um fluxo próprio, porém equilibrado, mantendo uma isotonia entre o meio interior e exterior do que parecia ainda sê-lo. Foi quando ele viu que ele já não mais era o que foi até então, ela agora era a música.
E sua propagação seria inevitável, era como um sino depois da badalada: ressoa inevitavelmente. E com decibéis incalculáveis ele abraçará todo o espaço com sua vibração infinita, ele se expandirá fazendo toda matéria tremer. Ele ocupará cada canto do globo, cada espaço vazio. E nenhuma parede, muralha ou montanha poderá barrá-lo.
E quando todo o planeta estiver tomado sua expansão pelo universo será inevitável, e até o morador do mais longínquo ponto do espaço ouvirá sua voz; e se não houver morador sua voz ecoará no vazio e ele não obterá resposta. Sua voz era agora tão alta que de local algum ele receberá resposta, já não era possível ouvi-lo. Sua voz, seu som, sua música era agora apenas vibração cósmica.
(...)

Tem mais, só que não vou postar o resto não.

Possíveis leitores, grande beijo a todos.