domingo, 12 de outubro de 2008

?

Agora já pleno de...agora já pleno, não sabia o que fazer da imensidão que já não lhe cabia no corpo, tamanha era a infinidade de sua alma. Colossalmente eterna, parecia lhe romper a matéria em busca do ilimite - sua alma se tornara ilimitada. Não cabia em si. Não cabia no mundo. E isso lhe causava angústia porque não sabia o que fazer do que agora era - O que faria de sua imensidão?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Just.

Ainda está para nascer criatura mais contemplativa.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Mensagem do vento

Do escritório ele podia ver pela janela o movimento dos carros e pedestres na avenida marginal ao rio. Olhou no relógio: três horas e trinta e cinco minutos da tarde. O sol iluminava impiedosamente a paisagem. O ventilador estava ligado, soprava um ar fraco e quente que apenas fazia o mormaço circular pelo cômodo. Deitou a cabeça sobre a mesa, ainda olhava pela janela. Havia uma praça e um monumento à sua frente, na verdade um monólito, erguido pela maçonaria da cidade. Uma menininha passou pela janela e lhe disse oi, ele respondeu monótono, e ela se foi. Suspirou profundamente – Eita terça-feira que não acaba!
De repente o vento começou a mudar, soprava gradativamente mais forte, balançava as copas das árvores na praça, e as folhas secas, já por meados do outono, arrancadas dos galhos e levadas pela ventania; nenhuma nuvem no céu. Saiu do escritório e foi para a rua, como gosta de vento não podia deixar de se expor àquele sopro repentino. É como se dele viesse uma força que revigora e impulsiona, mas também é como se o rompante que ele causa na inércia da paisagem o acalmasse. Pois o que pode se dizer do vento se não que ele é o espírito da Terra. E quando falo em espírito não digo alma, e sim falo em vida. A vida em essência é um movimento que não se vê, mas que se sente; no ambiente físico, estático, é o vento que se move. E a percepção de seu movimento pelo corpo é a confirmação de que se está vivo.
E sentir a vida confirmada por um agente da natureza, traz a tranqüilidade que muitos buscam. Em meio às tribulações cotidianas, nos esquecemos de sentir a vida e apenas a vivemos em negro, desprezando nossos atos natos. Substituímos nossas vontades e atitudes naturais por gestos impróprios ao que somos. O que ocorre é que nos deixamos conduzir pelas circunstâncias que a sociedade cria. E diante das circunstâncias agimos como esperam que ajamos; nem sempre fazemos o que queremos. E na tentativa de justificar a sublimação do que somos, dizemos a nós que estamos sendo racionais. Não há que se confundir racionalidade com negação ao eu, não há que se justificar essa agressão à essência, e sim há que se ter coragem de assumir o crime: eu mato o meu eu.
E ali parado diante do monólito e da praça, ele pode ouvir as portas das casas batendo: era o vento entrando sem cerimônia e movendo a matéria imóvel. Fechou os olhos e abriu os braços, como o gesto de quem se prepara para um abraço ou de quem se entrega. Ele se entregava para o vento, e queria que ele o agarrasse e o levasse não sei para onde, ele queria apenas ir. E o vento o faria voar. Se eu pudesse voar... se eu pudesse voar eu voaria para qualquer lugar, o vento seria meu guia, assim eu estaria me permitindo ser imprevisível; e viveria de acasos, sem fronteiras: seria livre. Iria para a cidade vizinha, para outros países, atravessaria os oceanos, sobrevoaria os desertos...
Abriu os olhos. E como um flash, passou diante de seus olhos um pedaço rasgado de papel soprado pelo vento. Correu para alcançá-lo, pegou. Analisou: estava um pouco sujo e trazia consigo uma carga de tristeza evidente pelos sinais das rasgaduras, profundas como um corte de uma adaga. Havia algo escrito: “E talvez o que me impossibilitava de ver as coisas como realmente eram fosse a ausência de uma perspectiva lógica. Os sentimentos e as vontades não são racionais , e em mim eles falam mais alto do que minha voz, e eles eram o referencial de minha perspectiva. Eu não agia pela lógica, eu agia por instinto.” Essas palavras, tão profundas e reflexivas só podem ter sido escritas por alguém se questionou sem medo da resposta que viria de seu próprio interior. Não creio que eu teria coragem de me questionar tão intimamente.
“Não poderia dizer que eu assumia uma posição errônea ao me deixar guiar pelos meus desejos. Nem tão pouco posso me permitir dizer que estava vivendo uma alucinação ou uma mentira. O que é verdade é aquilo no que acreditamos, e eu acreditava no que sentia. Pois só sentindo é que podemos perceber o que nos ocorre. Sentir é a única maneira de ter a prova de que algo é real, e eu sentia. E o que eu sentia era o que eu queria; então para mim era real. E era também correto, pois eu sei que me traria satisfação e alegria. E a vida existe para ser preenchida de realização de desejos, desde que estes não violem a própria existência...” Entendeu essas palavras como uma súplica por liberdade - Provavelmente é uma carta de um suicida. Uma mensagem jogada ao vento.
“E se quiserem me privar de ter o que quero ou ser o que sou, não me resta alternativa se não...” E a carta termina ai. Não sei qual era a alternativa: talvez fosse mesmo um suicídio ou quem sabe um assassinato. Mas pode ser que seja algo que não envolva um fim e sim um recomeço: talvez seja a decisão por uma nova vida. – Em todo caso espero que o emitente da carta tenha optado por sua liberdade. E que ele tenha tomado a decisão que lhe permita viver e não apenas existir. E se o que ele decidiu foi a morte não o recrimino. Morrer por vontade própria é se jogar em um abismo desconhecido, pois quais certezas temos sobre a morte? A única que é evidente é que a vida, como a conhecemos e sentimos, para; o resto é mistério. E julgar um suicida como fraco ou criminoso é uma violação à sua individualidade.
Então ele notou que o vento tinha parado e agora voltava a soprar. E quando ele atingiu a velocidade da ventania anterior abandonou o papel no ar. E como uma folha seca arrancada de um galho ele voou para longe de sua mão, e foi levado não sei para onde, não sei para quem. Ele permitiu que a mensagem seguisse seu destino. Uma mensagem do vento. Sentou-se na calçada e se perguntou: o que eu faria para ter a liberdade que tanto quero? Acho que sei a resposta, a minha resposta – concluiu- Cada um tem a sua resposta, pois as liberdades e suas questões são diferentes: elas variam assim como as personalidades, as perspectivas, as verdades. E não há como definir uma resolução geral.
- Como fazer para ser livre? Perguntou-lhe a menininha que lhe cumprimentara mais cedo, sentando-se ao seu lado.
-Depende do que lhe priva de ser livre. Respondeu surpreso, se perguntando de onde ela viera.
-Hum... acho que entendi-disse conclusiva- As vezes as pessoas criam suas próprias correntes que lhe impedem de andar.Ou ao invés de criá-las, elas lhes são oferecidas e as pessoas aceitam. E aceitar a privação que lhe é imposta é furtar de si a própria humanidade. E impor alguém que use correntes é violar a lei divina do livre arbítrio, da liberdade. Estou certa?
- Sim - respondeu solene – Sabe menininha, a liberdade é algo perigoso. É necessário que se tenha bastante controle de sua natureza para que se possa desfrutá-la. Enfim, acabei de dizer que ela não existe de fato... contraditório.
-Olha, rapaz- falou sem olhar para ele- Você pode ser livre sim, assim como eu e todos os outros... não sei como não vi isso antes ... mas nenhuma liberdade será infinita, pois no pouco espaço que dividimos não caberiam tantas asas ruflando ao vento. Podemos voar, mas sempre respeitando o espaço alheio.
-Entendo...
Olhou para o lado, a meninha já ia embora, estava longe, e ficava cada vez mais longe. Assim como o papel que lançara ao vento com a mensagem de alguém que quis ser infinitamente livre.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

...

... e até os óculos pesavam, o ar também pesava. A voz da professora pesada ecoava pesada pela sala. Estava cansado, e era um cansaço de descanso difícil -fatigado!- Era uma fadiga na alma.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Insight.

,mais uma vez me deparo comigo e estou refletindo. E é uma reflexão que não me dará resposta, pois a resposta não depende de mim. E tenho medo de refletir errado, perder o meu tempo com pensamentos sem sentido; flashes de consciência irracional e emotiva que me forçam a querer tomar uma decisão baseada na não resposta.
Talvez a questão não resolvida seja a resposta; o silêncio talvez já queira dizer não, e eu tenho que aceitá-lo assim, subentendido. A abstração do não ausente é a resposta que procuro? Creio que seja.
Na verdade eu deveria ter deixado para lá logo no início, acho que não deveria ter insistido, deveria ter deixado ir sem forçar a olhar para trás; eu não deveria ter chamado. Mas a vontade de ter a presença foi mais forte do que eu.
E eu estava disposto a me contentar com uma pequena fração. Sim, eu abriria mão do que eu quero se fosse necessário para que eu tivesse o básico. Então refleti sobre isso, e vi que agindo assim eu estaria violentando a mim mesmo; foi aí que senti meu orgulho ferido. E o sangue da ferida inundou todo o resto e me afoguei em mágoa.
Mas o tempo passou e a mágoa foi drenada e eu voltei a respirar. Porém, a umidade do sangue persiste. Só que nada disso importa, é passado, e falo do presente. Mas é difícil não importar, porque eu preciso de uma resposta, e como ela não virá até mim, para encontrá-la só me restam as evidências do passado. E baseado no que já se foi tentarei obter uma resposta que justifique minha decisão, cuja qual tenho medo de tomar por ser algo que não quero: esquecer.
Acho que cheguei ao inicio de uma conclusão, não vou esquecer; até porque esquecer não depende da minha vontade.
O que farei é aguardar o tempo passar e ficarei esperando a resposta. Não a buscarei, não perguntarei, não exigirei. Coisas como essas não devem ser exigidas, devem vir espontaneamente. Mas mesmo que a resposta seja ruim eu quero ouvi-la, acho que tenho esse direito.
Nunca prive alguém que se importa com você de uma justificativa.

domingo, 11 de maio de 2008

Ao som da música.

Não há modo de descrever o efeito que aquela música causava em seu corpo todo. A vibração lhe dava um batimento acelerado do seu coração. A letra narrava a sua versão da história. Era uma história de dois, e nesse caso não há uma versão oficial e correta dos fatos, o que há são duas perspectivas diferentes, e cada uma correta - do seu ponto de vista. Não havia discussão, não mais.
A música continuava tocando e ele agora dançava. O ritmo ele não percebia, ele não via se dançava conforme a música, ele vibrava em ressonância com o som da música, com o som do sentimento da música, com o som do seu sentimento.
De olhos fechados só podia perceber os flashes de luzes coloridas. O salão estava cheio, muita gente dançava perto dele. Mas naquela multidão ele estava sozinho, ele se isolava.
(.....)
E a canção agora era seu sustentáculo, ela que o mantinha de pé, uma força invisível que o cercava. Ele se sentia livre, porém firme no meio do nada. Ele se sentia como se estivesse dentro de um recipiente gigante, cheio de um liquido viscoso no qual estava submerso, porém suspenso, na música. Ela invadia seus ouvidos, penetrava e saia de sua boca. A música se tornara nele simultaneamente interna e externa. Ela mantinha um fluxo próprio, porém equilibrado, mantendo uma isotonia entre o meio interior e exterior do que parecia ainda sê-lo. Foi quando ele viu que ele já não mais era o que foi até então, ela agora era a música.
E sua propagação seria inevitável, era como um sino depois da badalada: ressoa inevitavelmente. E com decibéis incalculáveis ele abraçará todo o espaço com sua vibração infinita, ele se expandirá fazendo toda matéria tremer. Ele ocupará cada canto do globo, cada espaço vazio. E nenhuma parede, muralha ou montanha poderá barrá-lo.
E quando todo o planeta estiver tomado sua expansão pelo universo será inevitável, e até o morador do mais longínquo ponto do espaço ouvirá sua voz; e se não houver morador sua voz ecoará no vazio e ele não obterá resposta. Sua voz era agora tão alta que de local algum ele receberá resposta, já não era possível ouvi-lo. Sua voz, seu som, sua música era agora apenas vibração cósmica.
(...)

Tem mais, só que não vou postar o resto não.

Possíveis leitores, grande beijo a todos.

sábado, 3 de maio de 2008

Algo sem sentido vindo do nada mas com motivos e razões.

De repente me vi cansado das reflexões. Preciso me afastar de mim. Cansei de mim. Quero distância dos meus sentimentos, dos meus desejos. Não era necessário que fosse assim, mas se fez necessário porque cansei.
Digo tudo isso falando em primeira pessoa de mim. Digo que amo, ou amei, e o que sinto ou senti ocupa demais meus pensamentos porque tenho mania de pensar o que sinto, eu racionalizo os sentimentos ocupo minha mente pensando sobre o que sinto, e preciso de espaço, de tempo de silêncio.
Não quero que seja assim, eu queria que fosse mais simples, queria apenas que fosse possível, mas você utiliza todos os meios possíveis de impossibilitar, e eu não te entendo. Geralmente adoro o que não entendo, mas dessa vez estou cansando.
Acho que me deixei levar, não sei ao certo. Às vezes penso que foi um jogo, e não gosto de ser peça de xadrez. Gosto de confusões, mas odeio que me confundam. E sinceramente, você me confunde.
Mas ainda te quero. E creio que tudo é uma questão de tempo e convivência, acho que nos falta o convívio, então depois dele ficará claro se é um engano ou uma possibilidade.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O Sonho

"Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas."

Clarice Lispector

Reverência ao destino

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião. Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado. Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar. Difícil é mentir para o nosso coração. Fácil é ver o que queremos enxergar. Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer "oi" ou "como vai?" Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados. Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado. Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.
Fácil é ditar regras. Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros. Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade. Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo. Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida. Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica. Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.'
(Carlos Drummond de Andrade)

Me faltam palavras, então fico com as de Drummond. Obrigado Drummond.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Augusto Cury

"Sábio não é a pessoa que não erra, não se frusta e nem sofre perdas, mas é aquela que aprende a usar suas dificuldades como alicerce da sua sabedoria."

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Just like these

"Depois de toda luta e cada descanso, quero me levantar forte e pronto, como um cavalo novo."

Cordão umbilical

Hoje so tenho a dizer que o cordão umbilical pode matar. Queria dizer aos desavizados que isso pode acontecer sim, tal qual uma forca, ele pode matar.
Portanto cortem o mais prontamente possivel, quanto antes melhor. Quanto mais tardar a desvinculação mais o corte sangrará.Mas antes o sangue de algo inútil jorrando, do que uma vida perdida.
O cordão umbilical é sim muito importante, mas não se pode deixar de cortá-lo.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Toujour

Hoje acordei com uma sensação tão simples e plena que não sei compreender o que é. Senti-me leve, como se não houvesse problemas, como se tudo o que quero já me pertencesse. Poderia dizer que acordei feliz, mas o que sinto é mais simples do que a felicidade. É maior do que ela. É algo tão meu e independente de todo o resto que não poderia ser felicidade. Ela é complexa e depende de vários fatores externos. Não era o que eu sentia.
A sensação de que tudo estava realizado era um disfarce, uma positivação da vida. O que eu queria era a realização. Então se é para definir, defino como esperança. A esperança é o querer sem medo, é quando o desejo não teme o não, pois para a esperança ele não existe, ou caso seja uma possibilidade é muito remota. O não para a esperança é tão irrelevante quanto um clichê, tal qual dizer que é um grão de areia no deserto...

Fotobiografia de Clarice Lispector é lançada em São Paulo

"Uma fotobiografia da escritora Clarice Lispector (1920 - 1977), organizada pela professora Nádia Batella Gotlib, foi lançada na noite desta última terça-feira (15) em São Paulo. O livro é composto por cerca de 800 imagens da vida da escritora, distribuídas em ordem cronológica, além de manuscritos."


Se tem uma pessoa que eu adoraria ter conhecido é Clarisse Lispector, acho que nos identificariamos muito, pelo menos me identifico com o jeito dela de escrever.

Um beijo possiveis leitores.

domingo, 13 de abril de 2008

Catedral

O deserto
Que atravessei
Ninguém me viu passar
Estranha e só
Nem pude ver
Que o céu é maior
Tentei dizer mas vi você
Tão longe de chegar
Mas perto de algum lugar

É deserto
Onde eu te encontrei
Você me viu passar
Correndo só
Nem pude ver
Que o tempo é maior
Olhei pra mim
Me vi assim
Tão perto de chegar
Onde você não está
No silêncio uma catedral
Um templo em mim
Onde eu possa ser imortal
Mas vai existir
Eu sei
Vai ter que existir
Vai resistir nosso lugar
Solidão
Quem pode evitar
Te encontro enfim
Meu coração é secular
Sonha e deságua
Dentro de mim
Amanhã devagar
Me diz
Como voltar

Se eu disser
Que foi por amor
Não vou mentir pra mim
Se eu disser
Deixa pra depois
Não foi sempre assim
Tentei dizer
Mas vi você
Tão longe de chegar
Mas perto de algum lugar...



Bom, é algo parecido.

sábado, 12 de abril de 2008

É isso ai Clarisse.

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

Clarisse Lispector.

Do alto da torre

Ela olhava da janela de sua torre. Pequena princesa, menina criança. Sonhava ao luar com fadas, gnomos, e outras criaturas mágicas. Menina rainha, soberana de sua torre de ametista.
Via o horizonte sem fim. O que viria de além da vista, um unicórnio, um dragão assustador, o príncipe encantado em seu cavalo branco para resgatá-la, para salva-la? Só ela sabia o que viria. “Não meu príncipe, não preciso ser salva, estou segura em minha torre mágica”.
Uma criança cheia de sonhos e fantasia. Apenas uma criança em sua torre de ametista.
Em uma noite de luar, a pequena princesa se pôs à janela a sonhar. Admirava a imensidão do grande astro noturno, que clareava a escuridão propensa deixando-a tão clara que parecia dia, um dia etéreo. Caiu em devaneio, em sonho.
De além do horizonte vinha um anjo ao seu encontro. Ela não sabia qual era a expressão na face do celeste ser alado. Anjos são inexpressivos. Seres bondosos, de amor intenso e não humano. Amor divino, diferente do sentimento que denominamos como amor. Amor inexpressivo e imparcial.
Um vulto negro puxou a princesa para dentro da torre. Uma dor na escuridão machucava seu delicado pescoço de criança. Sentia o desespero tomar conta de seu corpo, não compreendia o porquê do ato. Sentia-se traída, enganada, posta em risco por sua própria fortaleza, sufocada pelo ar de seu próprio bosque encantado.
Ela então viu se no espaço vazio. O vento soprando em sua face parecia abraçá-la, tentava agarrá-la, queria sua salvação. Foi quando então a princesa viu que estava caindo de sua torre. Precisava voar.
Fechou os olhos e abriu os braços, iria voar.
Sentiu um baque forte em seu corpo infantil. A dor não era para ela naquele momento.
E veio o vento. Abriu os olhos. Estava voando. Agora conseguia ver além do horizonte, não olharia para trás. Percebeu que estava sendo carregada. Era o anjo; ele a abraçava. E ela sem dor sem medo sem rancor, partiu.

Voe em paz menina princesa que não conheci, mas da qual me tornei tão íntimo. Adeus.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Frozen-----Madonna

You only see what your eyes want to see
How can life be what you want it to be
You're frozen when your heart's not open
You're so consumed with how much you get
You waste your time with hate and regret
You're broken when your heart's not open

Mmm-mm-mm... If I could melt your heart
Mmm-mm-mm... We'd never be apart
Mmm-mm-mm... Give yourself to me
Mmm-mm-mm... You hold the key

Now there's no point in placing the blame
And you should know I suffer the same
If I lose you, my heart would be broken
Love is a bird, she needs to fly
Let all the hurt inside of you die
You're frozen when your heart's not open

You only see what your eyes want to see
How can life be what you want it to be
You're frozen when your heart's not open

If I could melt your heart






E que ninguém se feche para a vida por nada no mundo.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

O Livro

O Livro

Em uma estante na sala de um antigo casarão havia um livro. Ele sempre estivera ali, sempre fizera parte da coleção. Parecia ter sido planejado para ocupar aquele lugar. Sim, ele fora planejado.
O Livro aparentemente integrado ao meio, possuía um detalhe que o impedia de estar deveras integrado, ele estava trancado. Parecia um diário secreto, selado. Seu conteúdo era desconhecido. Era um livro que não se importava de ser julgado por sua capa. Ainda bem que só a capa bastava para julgamentos. Para muitos, um rótulo, uma capa, uma definição superficial é injustiça, para O Livro a superficialidade era seu refúgio, sua defesa.
Os anos foram se passando e O Livro cada vez mais se acomodava em sua estante. A comodidade de seu refúgio o tranqüilizava. Seu silêncio o mantivera seguro de curiosos que quisessem ler seu conteúdo secreto. Para os habitantes do casarão O Livro era apenas um livro trancado; eles preferiam vê-lo desta forma, um tipo de segredo que não é secreto, um segredo que não existe de fato, pois está trancado.
Porém, com o acúmulo dos anos da antiga casa, aumentava também o silêncio do livro. Seu silêncio começava a incomodar. Seu silêncio não incomodava pela ausência de palavras, mas sim pelo excesso de significado. O som do segredo do Livro era seu silêncio. Um silêncio profundo, ao mesmo tempo em que grave também agudo. Seu silêncio era a ressonância de sua voz muda, secreta.
Certo dia um estranho entrou no antigo palacete; e como quem procura sem interesse pelo que vai encontrar (talvez por não saber pelo que procura, e não saber se iria encontrar) encontrou O Livro. Ele o analisou desconfiado, não sabia se era seguro. Achou que deveria ir embora. É melhor ir embora, pensou. Deu as costas para a estante; iria embora. Foi se afastando... De repente ouviu uma voz muda o chamando. Ele ouviu um som que não fora pronunciado. O som do livro? Não, livros não emitem sons voluntariamente. Era o som do instinto, o som de seu desejo.
Olhou, pensou, analisou. E com a minunciosidade de um cientista decidiu estudar os detalhes do livro. Era jovem, havia em sua capa uma data recente. Mas era rústico, capa grossa. Poderia julgá-lo como algo de séculos. Um jovem livro marcado pela ação oxidante de seu silêncio ao longo de séculos. Notou que havia um cadeado. E agora?! Lembrou se de que carregava consigo algo que não sabia de onde veio nem quando surgiu, só sabia que sempre estivera com: a chave.
Colocou a mão no bolso e a pegou. Iria destrancar o cadeado... Ou não? Se justificou: mera curiosidade cientifica. A ciência era seu álibi; ele precisava de um álibi. Abriu, leu algumas páginas. Fechou. Trancou. Colocou O Livro sobre a mesa, deixou a chave e se foi.
O Livro e a chave ficaram lá, perdidos na imensidão da mesa plana. O Livro, uma indefinição. Eu poderia dizer o que ele sentia, mas livros não sentem. Os moradores viram a imagem: O Livro a mesa e a chave. Decidiram por fim no mistério. Abriram-no, leram, releram e viram tudo, menos o que queriam ver. Tudo o que viram eram folhas em branco, uma grande decepção. Tentaram escrever no livro, mas era impossível escrever em suas páginas.
Os donos do casarão chocados e ate desapontados, resolveram que aceitariam O Livro agora sem mistério, mesmo sua verdade sendo dolorida. Eles não conseguiam ler, eles não compreendiam, então aceitaram.
As paginas vindas estão em branco, mesmo para aqueles que compreendem. O que será escrito nelas eu não sei. Só sei que desde que foi destrancado O Livro ganhou título e estilo. E sei que nele alguma história, mesmo que secreta, será escrita sem restrição a um final feliz.

sábado, 29 de março de 2008

in-Definição

Nunca gostei de auto definições. Alguém que se auto define parece ser tão seguro de seu conhecimento de si próprio, que chega a ser monótono, sem a beleza do mistério. Não gosto da monotonia do conhecimento pleno, que de fato nem existe.
Eu não me defino. Digo ser, para todos os efeitos, o que julgo que sou. Não, eu não sou nunca fui, eu estou. Sempre estou. Sou de momentos, nunca uma constância. Deixo as constantes para as matemáticas secas, não humanas. Sou humano na mais plena fatalidade de sua equilibrada inconstância úmida, viva.
É tudo uma questão de máscaras. A vida é um grande baile (de máscaras). Os convidados a celebrar se vestem, se figuram e se projetam de acordo com o que querem ser de acordo com o que acham correto ser. Tudo é uma grande figuração. As máscaras fazem dos convidados apenas figurantes. As máscaras escondem. As máscaras possuem vida, são simbiônticas.

Cada um escolhe a sua máscara. Alguns a criam. Quem escolhe não tem consciência de que escolheu, se auto definem. Escolhem uma coisa já moldada, legitimada e aceita; são monótonos. Quem cria sabe que está criando. Quem cria vive a originalidade que a vida deve ser. Quem cria celebra a festa. É um criar sem fim. É nunca ter uma forma definida. Criar é de momentos, é saber se adaptar. Criar é ser a máscara disforme, porém moldável. É ter o controle do que se é se for possível ser, e não estar. Eu crio minha máscara.