quinta-feira, 10 de abril de 2008

O Livro

O Livro

Em uma estante na sala de um antigo casarão havia um livro. Ele sempre estivera ali, sempre fizera parte da coleção. Parecia ter sido planejado para ocupar aquele lugar. Sim, ele fora planejado.
O Livro aparentemente integrado ao meio, possuía um detalhe que o impedia de estar deveras integrado, ele estava trancado. Parecia um diário secreto, selado. Seu conteúdo era desconhecido. Era um livro que não se importava de ser julgado por sua capa. Ainda bem que só a capa bastava para julgamentos. Para muitos, um rótulo, uma capa, uma definição superficial é injustiça, para O Livro a superficialidade era seu refúgio, sua defesa.
Os anos foram se passando e O Livro cada vez mais se acomodava em sua estante. A comodidade de seu refúgio o tranqüilizava. Seu silêncio o mantivera seguro de curiosos que quisessem ler seu conteúdo secreto. Para os habitantes do casarão O Livro era apenas um livro trancado; eles preferiam vê-lo desta forma, um tipo de segredo que não é secreto, um segredo que não existe de fato, pois está trancado.
Porém, com o acúmulo dos anos da antiga casa, aumentava também o silêncio do livro. Seu silêncio começava a incomodar. Seu silêncio não incomodava pela ausência de palavras, mas sim pelo excesso de significado. O som do segredo do Livro era seu silêncio. Um silêncio profundo, ao mesmo tempo em que grave também agudo. Seu silêncio era a ressonância de sua voz muda, secreta.
Certo dia um estranho entrou no antigo palacete; e como quem procura sem interesse pelo que vai encontrar (talvez por não saber pelo que procura, e não saber se iria encontrar) encontrou O Livro. Ele o analisou desconfiado, não sabia se era seguro. Achou que deveria ir embora. É melhor ir embora, pensou. Deu as costas para a estante; iria embora. Foi se afastando... De repente ouviu uma voz muda o chamando. Ele ouviu um som que não fora pronunciado. O som do livro? Não, livros não emitem sons voluntariamente. Era o som do instinto, o som de seu desejo.
Olhou, pensou, analisou. E com a minunciosidade de um cientista decidiu estudar os detalhes do livro. Era jovem, havia em sua capa uma data recente. Mas era rústico, capa grossa. Poderia julgá-lo como algo de séculos. Um jovem livro marcado pela ação oxidante de seu silêncio ao longo de séculos. Notou que havia um cadeado. E agora?! Lembrou se de que carregava consigo algo que não sabia de onde veio nem quando surgiu, só sabia que sempre estivera com: a chave.
Colocou a mão no bolso e a pegou. Iria destrancar o cadeado... Ou não? Se justificou: mera curiosidade cientifica. A ciência era seu álibi; ele precisava de um álibi. Abriu, leu algumas páginas. Fechou. Trancou. Colocou O Livro sobre a mesa, deixou a chave e se foi.
O Livro e a chave ficaram lá, perdidos na imensidão da mesa plana. O Livro, uma indefinição. Eu poderia dizer o que ele sentia, mas livros não sentem. Os moradores viram a imagem: O Livro a mesa e a chave. Decidiram por fim no mistério. Abriram-no, leram, releram e viram tudo, menos o que queriam ver. Tudo o que viram eram folhas em branco, uma grande decepção. Tentaram escrever no livro, mas era impossível escrever em suas páginas.
Os donos do casarão chocados e ate desapontados, resolveram que aceitariam O Livro agora sem mistério, mesmo sua verdade sendo dolorida. Eles não conseguiam ler, eles não compreendiam, então aceitaram.
As paginas vindas estão em branco, mesmo para aqueles que compreendem. O que será escrito nelas eu não sei. Só sei que desde que foi destrancado O Livro ganhou título e estilo. E sei que nele alguma história, mesmo que secreta, será escrita sem restrição a um final feliz.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa miguxo do meu core♥!
Que linduuuuuu...
Muito linduu mesmo seu texto...
Tanta sensibilidade e
dedicação a leitura que vc faz q
fica lindo depois de pronto.
Parabéns!
Agora vem cá...
De onde sai essa pessoa tão sensível ???kkkk
Pq ultimamente anda tão rebelde com a vida...kkkkkk
Tô Zuando!!!huahuahuahua
Te gosto muitoooooooooo!!!!♥

BjoOoo!!!